sexta-feira, 18 de julho de 2014

Em dias frios

Em dias frios, há tanta gente descoberta que a cabeça dói.
Em noites vazias, são só vozes.

E aí há um momento, às vezes, pela manhã
,quase nunca pela noite,
que ninguém aparece.
E, por um segundo, eu tenho que falar algo de frente ao vidro que tenta esconder o sol.

Da pequena passagem pela parede uma profusão de vontades caminham pela única rua que a minha janela me permite.
E essa profusão de vontades são pequenas mentiras que me contaram antes que eu fosse verdade nessa cidade irreal.

São torres inexistentes em meio a barulhos sexos secos.

E aí ao amanhecer parece verão, e eu volto para o ponto zero e mergulho no silêncio das vontades que ainda não perceberam que o sol raiou.
As artificialidades que escondem nossas gotas de suor nos mantém em suspensão temporária de vida através do silêncio alternado do ar. Ar tificial.

De chinelo na mão imaginando a areia no pé, escorro um pouco de sangue na inconformidade de estar preso em uma minúscula janela de uma rua só que é mais cinza que o próprio estereótipo que se espera dessas pseudo-vontades caminhantes.

E logo já é manhã e essas vontades voltam para rua quase sem desejo de estarem aí. Apenas vontades secas.
Se isso fosse verdade, essas vontades não seriam nada. Apenas pernas.
Mas elas são pequenas mentiras cheias de produtos que me esvaziam e me deixam com medo de seguir aqui.

Se não fosse verão e se o sol não fosse insistente logo tão cedo, eu já tinha desistido de ser vontade e teria voltado para minhas palmeiras.

Dizem que vontade é ambição. Eu era vontade, agora sou desejo. De nada. Sou silêncio. Sou de pés descalços pela nova manhã anunciando mais um vontade-dia. Anunciando mais um vidro-dia para mim. Me fecho de novo, espero toda essa vontade passar para poder sair e ser desejo de novo.


E há desejos que ainda acreditam que essas vontades são pessoas.

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