domingo, 23 de agosto de 2015

Nu

Meus movimentos precisos te envergonham
e você não percebe a tua risada gritada no ônibus

Você se mostra em todos os países do mundo, em todas as partes
mas se esconde em finais de junho

Meu beijo masculino te enrubesce
e teu coração para de bater por alguns minutos

a vergonha que você carrega ao lado desse medo infantil
te deixa vulnerável como numa canção feminina e...

... ainda assim você se silencia frente aos meus modos, minhas maneiras

Não te peço voz
Mas saiba que teu silêncio me entristece

Saiba que a tua risada no ônibus te mantém vivo
em nome de todos aqueles que foram amarrados em postes e deixados para morrer

Cada abraço escondido
Cada beijo negado
Cada silêncio exigido
Cada palavra engolida

É um corpo – feminino ou masculino – morto
O teu silêncio carrega sangue.

O teu medo fortalece o punho do outro
Enfrente-se
Me enfrente

E, por fim,
saiba que todos sabem, mas se silenciam porque têm medo do que o seu medo é capaz.


Me enfrente...

...nu

Morto iminente
não por morar em São Paulo, não por ser brasileiro

Corpo marcado
pela peste, pela promiscuidade minha e dos outros

Vergonha alheia
da minha voz, da minha mão, do meu som

Faça silêncio
Não corra
Não cruze as pernas
Não me toque
Não ande comigo

Vida permeada pelo não.
O único sim é o da morte
e não porque todos morrem, só porque alguns morrem marcados pela vergonha

Não seja assim
Não faça assim
Não seja.

Mesmo saudável somos doentes.
Mesmo sozinhos somos coletivos.

Se calam sobre o meu corpo
clandestino
silenciado


 Deixe-se ser nu