Meus
movimentos precisos te envergonham
e você não
percebe a tua risada gritada no ônibus
Você se
mostra em todos os países do mundo, em todas as partes
mas se
esconde em finais de junho
Meu beijo
masculino te enrubesce
e teu
coração para de bater por alguns minutos
a vergonha
que você carrega ao lado desse medo infantil
te deixa
vulnerável como numa canção feminina e...
... ainda
assim você se silencia frente aos meus modos, minhas maneiras
Não te peço
voz
Mas saiba
que teu silêncio me entristece
Saiba que a
tua risada no ônibus te mantém vivo
em nome de
todos aqueles que foram amarrados em postes e deixados para morrer
Cada abraço
escondido
Cada beijo
negado
Cada
silêncio exigido
Cada
palavra engolida
É um corpo
– feminino ou masculino – morto
O teu
silêncio carrega sangue.
O teu medo
fortalece o punho do outro
Enfrente-se
Me enfrente
E, por fim,
saiba que
todos sabem, mas se silenciam porque têm medo do que o seu medo é capaz.
...nu
Morto
iminente
não por
morar em São Paulo, não por ser brasileiro
Corpo
marcado
pela peste,
pela promiscuidade minha e dos outros
Vergonha
alheia
da minha
voz, da minha mão, do meu som
Faça
silêncio
Não corra
Não cruze
as pernas
Não me
toque
Não ande
comigo
Vida
permeada pelo não.
O único sim
é o da morte
e não
porque todos morrem, só porque alguns morrem marcados pela vergonha
Não seja
assim
Não faça
assim
Não seja.
Mesmo
saudável somos doentes.
Mesmo
sozinhos somos coletivos.
Se calam
sobre o meu corpo
clandestino
silenciado