Se fosse possível uma coreografia
Faríamos algo juntos
Seríamos coletivo
Mas desde jeito calado
Só minhas palavras
Meu silêncio disfarçado em poesia
É o que dá para ser
Seria uma dança se houvesse música
Ou será que alguém já dançou em silêncio?
“Dance, dance ou estamos perdidos”
Faça coreografia da minha poesia
Pausa de voz.
Pernas no chão, rosto no piso, mãos arqueadas.
Movimento.
Voz:
Em silêncio te descrevo meu corpo
Tuas mãos correm pelos meus pelos
Me desmonto em transe e te deixo no ar. Você cai com
as mãos no chão enquanto suas pernas insistem no ar.
Pausa de voz.
Deitado no chão. Tiro meu shorts. Nu. Nua.
Voz:
Há necessidade de rolar no chão, mas não há
piso.
Coreografia para palavras
Silencio para música que não toca.
Só corpo.
Ereto. Braços ao longo do corpo. Transe. Cabeça para
baixo. Rápido. Mãos epilépticas.
Chão. Corpo no chão.
Silêncio. Só o corpo dança.
Pausa de voz.
No ar. No chão. No ar. No chão. No a... No cha... No
a... No ch.. No. No. N. N.
Falta de ar.
Voz:
Trouxe comigo o livro que roubei da tua casa no
primeiro dia que te vi. E leio a dedicatória que me escreveu na primeira vez
que esteve na minha casa.
Este livro já é seu, assim como eu.
Páginas soltas pelo chão. Corpo entre folhas. Mãos na
lateral do meu ombro. Me viro como peão, minha cabeça em discordância com meu
corpo. Giro, giro, giro, giro, giro, giro, giro, giro, giro, giro, giro, giro,
giro, giro, giro, giro, giro. Mão na lateral do meu ombro.
“a vida não é uma canção. É só isso. Viver.”
E parece que ouço uma melodia.
Sem coreografia, recolho as páginas do chão. E imagino
passos entre as folhas.