Baptista
Lisboa, 31 de julho de 2010 – final de verão
Já não há mais o que
escrever porque parece-me que Lisboa me livrou da dor.
Já não há mais o que
escrever porque em plena luz do sol, ele jogou-se da janela.
E nós vimos.
Eu vi e ela ouviu.
E aquele estrondo do
corpo no chão marcou a nossa viagem.
E agora, sempre que
penso nas ruas de Lisboa, ouço o corpo no chão:
Baptista.
Ele era Batista. E nós
ainda somos o que somos. Sem dor.
A dor espatifou-se junto
com ele.
Adeus Dor. Canto-te um
mantra para aliviar o som do corpo.
E ele nem sabia o que
fazia, só queria voar com seu gato.
E nós ali, perdidos
entre a Aurea e uma outra.
E quando o último cair,
ainda estaremos aí. Perdidos.
Eles nem sabem o que
fazem, mas sabem o que querem como as crianças que se jogam no colo dos pais.
E nós, no caminho do
mar.
Abraço-te para livrar-te
do som do corpo retorcido no chão.
Infelizmente o som não
vai embora com a dor. Ele é permanente.
Assim como a dor de quem
não pôde segurar o Batista.
Que Batista encontre seu
gato voador e que tu encontres teu espaço.
Que ele encontre uma
língua
E que eu volte para
casa.
Batista será nosso
exemplo. Seu som será nosso exemplo.
Eu sempre volto
E no caminho me livro da
areia,