sábado, 17 de outubro de 2015

Baptista

Baptista
Lisboa, 31 de julho de 2010 – final de verão

Já não há mais o que escrever porque parece-me que Lisboa me livrou da dor.
Já não há mais o que escrever porque em plena luz do sol, ele jogou-se da janela.
E nós vimos.
Eu vi e ela ouviu.
E aquele estrondo do corpo no chão marcou a nossa viagem.
E agora, sempre que penso nas ruas de Lisboa, ouço o corpo no chão:
Baptista.
Ele era Batista. E nós ainda somos o que somos. Sem dor.
A dor espatifou-se junto com ele.
Adeus Dor. Canto-te um mantra para aliviar o som do corpo.
E ele nem sabia o que fazia, só queria voar com seu gato.
E nós ali, perdidos entre a Aurea e uma outra.
E quando o último cair, ainda estaremos aí. Perdidos.
Eles nem sabem o que fazem, mas sabem o que querem como as crianças que se jogam no colo dos pais.
E nós, no caminho do mar.
Abraço-te para livrar-te do som do corpo retorcido no chão.
Infelizmente o som não vai embora com a dor. Ele é permanente.
Assim como a dor de quem não pôde segurar o Batista.
Que Batista encontre seu gato voador e que tu encontres teu espaço.
Que ele encontre uma língua
E que eu volte para casa.
Batista será nosso exemplo. Seu som será nosso exemplo.

Eu sempre volto
E no caminho me livro da areia,


Nenhum comentário:

Postar um comentário